O CALENDÁRIO E O CASAMENTO NO MÊS DE MUHARRAM

 

O CALENDÁRIO E O CASAMENTO NO MÊS DE MUHARRAM

 

O calendário é uma ferramenta muito importante não apenas no registo de acontecimentos, como também na planificação das actividades do Homem nas mais diversas esferas da sua vida.

Se não fosse o calendário não saberíamos situar no tempo os vários eventos ocorridos, nem programar eventos futuros.

Existem no Mundo vários tipos de calendário, sendo que qualquer deles se baseia em três elementos: Sol, Lua e outros astros. Portanto, existem basicamente três calendários desenvolvidos a partir destes três elementos.

 

O benefício do estudo e conhecimento da história está nas lições que dela tiramos, comparando o que outrora se passou, com o que se passa actualmente. E é com o conhecimento da história que sabemos o comportamento, e as situações por que passaram os povos que nos antecederam. Cada povo no Mundo inicia a sua história na base de algum acontecimento importante que tenha ocorrido no seu seio.

 

Enquanto o calendário gregoriano se baseia no Sol, o isslâmico baseia-se na Lua, sendo que o ano lunar tem o seu início no mês de Muharram. Este calendário tem a sua contagem a partir do maior evento ocorrido na história do Isslam, no tempo do Profeta Muhammad (S), que é o Hijra – a migração do Profeta, da cidade santa de Makkah para Madina.

 

O calendário lunar é mais fácil de ser seguido do que o solar, pois facilmente, tanto eruditos como leigos podem situar-se em termos de data, e ser seguido por todos. Por exemplo, quando a Lua Nova é visualizada no horizonte, tanto sábios como iletrados se apercebem que se trata do primeiro dia do mês. Quando é Lua Cheia, todos sabem que se está no dia catorze, e quando ela se torna fina e aparece a oriente, sabe-se que se está no dia 27 ou 28.

E a Lua muda-se visivelmente por cada dia que passa, facto que ajuda facilmente as pessoas a situarem-se na data, o que já não acontece relativamente ao Sol.

 

É permitido aos muçulmanos usar qualquer dos calendários instituídos, seja em assuntos ligados ao comércio ou outros, mas no que respeita aos assuntos relacionados aos rituais e à religião, devem usar o calendário lunar.

O mês de Muharram que é o primeiro mês do calendário islâmico tem grandes particularidades comparativamente aos outros meses, tendo sido por isso que o Profeta Muhammad (S.A.W.) disse que, depois do jejum do mês de Ramadhán, os melhores jejuns perante Deus são os do mês de Muharram. (Musslim)

 

Segundo os teólogos, não só o jejum é virtuoso neste mês, mas todas as boas acções são igualmente virtuosas. E no rol de boas acções consta também o casamento.

Infelizmente algumas pessoas, devido à ignorância, e sem base alguma, acham que não se deve contrair casamento no mês de Muharram. Não há no Shariah nenhuma proibição no que respeita à celebração de casamento neste mês.

 

Tais ignorantes acham que o casamento no mês de Muharram é nefasto, o que não é verdade, pois a virtude e o mérito deste mês já vem dos primórdios, muito antes do Profeta Muhammad (S). Aliás, segundo narrações, foi neste mês que ocorreram eventos de grande importância. Consta até, que o grande evento de Quiyámah (Fim deste Mundo), ocorrerá no mês de Muharram.

Portanto, com tudo isso, como se pode considerar este mês como agoirento?

 

Os que acham que não se deve contrair casamento no mês de Muharram, alegam ser este um mês de luto e dor, já que foi nele que o neto do Profeta (S) – Imám Hussein (R) – foi morto, juntamente com todos os membros, pequenos e grandes, da sua família. A abstenção de celebração de casamento neste mês, seria segundo eles, uma manifestação de simpatia para com os mártires, pelo que se deve estar de luto, evitando-se tudo o que seja festa e manifestação de alegria.

 

Este tipo de sentimentos baseia-se apenas na ignorância e num grande défice de conhecimento do Shariah, pois o martírio é algo honroso e não de tristeza.

Todos os companheiros do Profeta (S) desejavam morrer como mártires. Até mesmo o Profeta Muhammad (S) dizia repetidamente desejar ser mártir no caminho do seu Senhor. (Musslim)

 

E não há nenhum dia do ano, em que algum familiar ou companheiro do Profeta (S) não tenha sido martirizado, pelo que, se tomarmos todos esses dias como dias de luto, então toda a nossa vida na Terra estagnaria.

No Isslam só é permitido observar luto em dois casos específicos:

1. Quando a mulher perde o marido, devendo observar o Iddah (período de espera) que são quatro meses e dez dias.

2. Pelo falecimento de algum familiar próximo, em que o luto é de apenas três dias.

 

É contrário aos ensinamentos do Isslam ficar de luto mais do que o tempo estipulado. (Al-Bukhari)

E luto durante os dias estipulados significa evitar o embelezamento, a ornamentação, o uso de substâncias fragrantes, etc.

Não é permitido manifestar dor e tristeza chorando em voz alta ou aos gritos, ou trajar roupas pretas, etc.

 

Mas afinal, que tipo de luto é que os ignorantes advogam, que não tem fim? Não há explicação para a observância de luto assim que o mês de Muharram tem início. Tal prática não tem nenhuma base, nem lógica no Isslam, devendo ser evitada a todo o custo.

Se o luto não é permitido fora daquilo que está estipulado, como então isso pode ser motivo para não se celebrar casamento neste mês?

 

Aliás, há até uma narração com alguma fiabilidade, segundo a qual Ali (R) contraiu casamento com Fátima (R) no mês de Muharram (Tárikh Madinat-Damasq de Ibn Assákir, e Tárikh Ar-Russul wal-Mulk de At-Tabari).

Não se deve fazer do mês de Muharram, um mês de luto e tristeza, pois é errado pensar que o casamento neste mês é funesto.

 

[Shk. Aminuddin Muhammad, aos 12 de Setembro de 2018]

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